- ESCOLHA DO EDITOR
- 1987 · 3 faixas · 9 min
Concerto para violino em sol menor
Um homem definha sob o calor do sol em “Verão”, o segundo dos quatro concertos individuais para violino que formam As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi. A paisagem desbotada criada pelos violinos altos ganha vida na segunda seção com o canto dos pássaros; o soneto que a acompanha menciona uma rolinha e um pintassilgo, mas tudo o que ouvimos é o chamado preguiçoso do cuco entre os violinos. A rajada de vento do solista rapidamente ganha impulso nas cordas superiores. Por um momento, a ventania parece ter passado, mas volta com força total para conduzir o movimento ao seu empolgante final. No “Adagio” central, um pastor teme a tempestade porvir – sua angústia é tecida na melodia ansiosa do solista. As cordas ao redor vibram e tagarelam como zumbidos de um inseto. Mas tudo é varrido abruptamente pelo movimento final, “Presto”, quando a tempestade há muito aguardada finalmente chega. “Os céus rugem e grandes pedras de granizo caem”, diz o poema. Mesmo sem essa narrativa para nos guiar, não teríamos dúvidas sobre a tempestade, graças às semicolcheias que rasgam as cordas e o relâmpago que cai em cascata através do violino solo. A violenta virtuosidade aqui é empolgante – a orquestra convoca o público a uma dança poderosa e turbulenta da qual não há como escapar. Sobre As Quatro Estações, de Vivaldi De um repentino temporal na primavera ao calor preguiçoso do verão, das músicas e danças da colheita (e as bebedeiras que as abastecem) ao frio de ranger os dentes dos ventos invernais: a obra As Quatro Estações, de Vivaldi, é um retrato vívido de um ano na vida no campo, pintado musicalmente. Publicado em 1725, o conjunto de quatro concertos de violino forma a abertura de uma coleção maior, O Conflito entre a Harmonia e a Invenção, mas eles sempre estiveram à parte: era música descritiva em uma era de abstração, trilha sonora cinematográfica muito antes da invenção do cinema. Desprezados em seu tempo como brincadeiras ou uma inovação maluca, foram necessários mais de 200 anos para que esses registros sonoros encontrassem seu lugar no repertório clássico.