Concerto para violino em fá maior

A colheita do outono e os respectivos festejos são o ponto de partida de “Outono”, o terceiro concerto para violino de As Quatro Estações, de Vivaldi. Aqui as diversões e os prazeres do homem ganham mais destaque do que a natureza. Quase dá para ouvir o barulho das botas no ritmo pesado do “Allegro”. A dança é aparentemente acompanhada por uma rabeca, sugerida nos acordes do violino solo, que ganha movimentos ébrios à medida que o vinho começa a fazer efeito. A euforia dá lugar à melancolia e a dança de abertura retorna brevemente. “Os bêbados caem no sono”, escreve Vivaldi na partitura do movimento lento. Cordas sustentadas giram em uma quietude onírica sobre o cravo, cujos acordes sugerem uma respiração. É o momento de pausa e refresco que antecede à caçada. O tema galopante do movimento final leva diretamente à caça, como se cavalos e cães passassem correndo. Na primeira entrada do solista, ouvem-se o toque das trompas e os gritos estridentes dos caçadores. A adrenalina aumenta, a orquestra se agita quando aparece a presa ferida e semicolcheias escalam as cordas (às vezes dedilhadas para maior impacto) quando o animal é finalmente capturado. Sobre As Quatro Estações, de Vivaldi As Quatro Estações, de Vivaldi, é um retrato vibrante da vida no campo durante um ano: uma tempestade repentina na primavera, o calor preguiçoso do verão, canções e danças da colheita no outono (acompanhadas de bebida) e o vento gelado do inverno. Publicados em 1725, esses quatro concertos para violino fazem parte de uma coleção maior, A Disputa entre Harmonia e Invenção, mas desde sempre se destacaram: é uma música descritiva numa época marcada pela abstração, uma música de filme muito antes da invenção do cinema. O conjunto de concertos não foi levado a sério na época (truques e inovação grosseira, diziam), e levou mais de 200 anos para que essas fotografias musicais passassem a fazer parte do repertório regular de violino.